O movimento Slow Food Brasil divulgou recentemente nota de repúdio à derrubada dos licurizais na região de Piemonte da Diamantina, município de Capim Grosso (BA).
A palmeira, que pode medir aproximadamente 11 metros de altura, é típica da região do norte de Minas Gerais, na porção oriental e central da Bahia até o sul de Pernambuco e também nos estados de Sergipe e Alagoas. Os frutos são um dos principais alimentos da arara-azul-de-lear, sendo considerado indispensável para a sobrevivência deste animal, endêmico da Caatinga brasileira e ameaçado de extinção. Além disso, populações tradicionais aproveitam de suas folhas são para fabricação artesanal de sacolas, chapéus, vassouras, espanadores, entre outros. Das amêndoa produzem um óleo utilizado na culinária, similar ao óleo de coco, sendo também considerado o melhor óleo do país para a fabricação de sabão e, também, a utilizam na fabricação de doces, como a cocada, de licores e do leite de licuri, especialidade da cozinha baiana.
Por anos, os lizurizais são preservados pelas comunidades que coletam e beneficiam esta espécie para complementar a renda familiar. Mas, de um tempo para cá o o desmatamento e derrubada dos licurizais só aumentam. Diante do risco de perda desta árvore nativa da Caatinga, o Cerratinga dá amplitude à manifestação do Movimento Slow Food, divulgando abaixo a carta de repúdio.
Brasil, outubro de 2014
A todos os apoiadores e simpatizantes do Movimento Slow Food Brasil
A todos os camponeses e agricultores familiares que alimentam os brasileiros
Aos governantes da Bahia e ao povo do Brasil
O Slow Food Brasil vem publicamente declarar repúdio à derrubada dos licurizais na região de Piemonte da Diamantina, município de Capim Grosso (BA).
Os licurizais são o meio de sustento de diversas famílias localizadas na região, em uma atividade agroextrativista que é passada de geração para geração. O licuri é uma espécie endêmica; em todo o mundo, existe apenas no Nordeste de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. A destruição dos licurizais é um descumprimento da IN0191/2008 do IBAMA, numa clara demonstração de crime ambiental.
Em setembro de 2013 a destruição já havia sido denunciada à Comarca de Quixabeira – BA, por membros da Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (COOPES). Em Capim Grosso, os vereadores aprovaram o projeto de lei de preservação do licuri, mas o prefeito vetou, dizendo ser inconstitucional, tudo por conta dos loteamentos no município. Enquanto a câmara de vereadores analisa o veto, tentando adequar o projeto, o desmatamento e derrubada dos licurizais só aumentam.
Em Quixabeira, o presidente da câmara de vereadores derrubou 900 licurizeiros. A denúncia foi feita no Ministério Público, o INEMA (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia) notificou mas não puniu e a situação ficou por isso mesmo. Respaldamos a luta que cerca de 100 famílias da região do Piemonte da Diamantina tem empreendido em defesa dos licurizais. Respeitosamente pedimos aos legisladores e governantes dos municípios envolvidos, e do Estado da Bahia, que reconheçam o grave risco que estão colocando esta riqueza alimentar, cultural e ambiental insubstituível, posto que é urgente que assumam sua responsabilidade e tomem atitudes enérgicas.
O Movimento Slow Food estará atento as decisões que serão tomadas e respaldará as ações que se tomem para proteger esse inestimável patrimônio brasileiro, lembrando que o compromisso do Movimento Internacional é preservar as tradições agroalimentares e os povos que dela dependem, e conosco está a voz de centenas de milhares de pessoas em mais de 170 países que não se calarão ao ver atitudes como estas seguirem impunes.
Carlo Petrini
Presidente do Slow Food Internacional
Georges Schnyder
Presidente da Associação Slow Food do Brasil
Clique aqui para ver a postagem original no site do Slow Food Brasil.