Exclusivo do Brasil
A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro e, ao contrário da imagem propagada de isolamento e solo rachado, abriga uma diversidade de espécies ainda pouco conhecida por grande parte da população.
Em relação ao tamanho da Caatinga, dados de órgãos do governo federal variam, apontando para uma área entre 800 mil e 900 mil km², correspondente a cerca de 11% do território nacional.
Engloba regiões de clima semiárido dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e a parte norte de Minas Gerais. O nome do bioma advém do tupiguarani e significa mata branca, uma referência à cor dos troncos das plantas que perdem sua folhagem nos períodos mais secos.
A flora da Caatinga tem características peculiares, apresentando uma estrutura resistente e adaptada às condições áridas, por isso são chamadas xerófilas, ou seja, adaptadas ao clima seco e à pouca quantidade de água. A vegetação é formada por três estratos: o arbóreo, com árvores de 8 a 12 metros de altura; o arbustivo, com vegetação de 2 a 5 metros; e o herbáceo, abaixo de 2 metros. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, 932 espécies vegetais ocupam os solos da Caatinga, das quais 318 são endêmicas, sendo as bromélias e os cactos as principais famílias de plantas da região. A sapiência da natureza proporcionou às espécies folhas miúdas, cascas grossas e hastes espinhentas que são adaptadas à evapotranspiração intensa. As plantas ainda têm a especificidade de possuir raízes tuberosas para armazenamento de água, possibilitando a rebrota da planta mesmo após longos períodos de falta de água ou mesmo intervenções humanas. Mandacaru, xique-xique, barriguda e umbuzeiro são algumas das espécies com grande capacidade de armazenamento de água. Há ainda uma vasta lista de plantas medicinais como a catingueira, o jerico e o angico.
A Caatinga ainda abriga espécies raras e de grande valor como o ipê roxo, o cumaru, a carnaúba e a aroeira, a qual está ameaçada de extinção. Nos períodos chuvosos, espécies de plantas herbáceas se abrem em flor, dentre as quais a malva, a malícia e a flor de tijirana.
As singularidades da Caatinga resultam em uma fauna diversa composta por mais de 800 espécies animais. Já foram registradas 148 espécies de mamíferos, 510 de aves, 154 de répteis e anfíbios e 240 de peixes. Este é o habitat do preá, da asa branca e o do tamanduá-mirim. Adaptar-se às condições climáticas do bioma é a principal estratégia de sobrevivência de plantas e animais, a exemplo dos anfíbios, que procuram abrigo em bromélias, se enterram e saem nos períodos chuvosos. Os invertebrados compõem um grupo especial, vasto e pouco conhecido. Eles são a base da cadeia alimentar no bioma, polinizam as plantas e servem de alimento para anfíbios, répteis, aves e pequenos mamíferos.
A Caatinga ainda abriga seis espécies de felinos: a onça-pintada, onça-parda, jaguatirica, gato-do-mato-pequeno, gato-maracajá e gato-mourisco. No entanto, a exploração humana e o manejo inadequado da terra afetam sobremaneira esta rica fauna. Inúmeras espécies se encontram ameaçadas de extinção, como a onça-parda, o tatu-bola e o soldadinho do araripe.
As populações que habitam o bioma são também conhecidas como caatingueiros: são sertanejos, vaqueiros, agricultores, populações indígenas e quilombolas, sendo berço de comunidades tradicionais como os índios Tumbalala, os Pankararu, e dos quilombolas de Conceição das Crioulas. Estes grupamentos humanos desenvolvem suas próprias estratégias de sobrevivência e convivência com as condições da Caatinga, são guardiões do conhecimento sobre o manejo das plantas, de suas propriedades e usos medicinais, sobre a milenar técnica de busca de águas subterrâneas com varinhas (conhecida como radiestesia) e sobre os sinais da natureza que antecedem as secas prolongadas e as chuvas.
O clima da Caatinga é semiárido, o que influencia diretamente a disponibilidade hídrica da região. Este tipo climático é marcado por baixa umidade e irregularidade de chuvas, com longos períodos de escassez pluviométrica – que podem chegar a oito ou nove meses. Esta característica hídrica influencia os rios, em sua maioria intermitentes, que secam em algumas épocas, e desenham o ambiente de uma forma bastante particular. Apesar dos rios que nascem na Caatinga secarem na maior parte do ano, um dos mais importantes do Brasil, o São Francisco, tem 80% das suas águas situadas na região. Outro importante rio perene que corta a área é o Parnaíba.
As chuvas podem garantir a distribuição e acesso universal da água, desde que existam estratégias sustentáveis de coleta através de tanques, barragens e cisternas. Através da convivência racional com a Caatinga, é possível garantir o consumo de água humano, animal e para produção de alimentos. É válido salientar que pelo território há verdadeiros oásis que são os brejos, locais propícios ao cultivo e à sobrevivência de muitas espécies animais.
Infelizmente, a Caatinga é um dos biomas mais degradados do país, concentrando mais de 60% das áreas susceptíveis à desertificação. Historicamente, esta região vem sofrendo com a ausência de práticas de manejo do solo e com a monocultura e pecuária extensiva, além de inúmeras queimadas. Atualmente, as principais causas de desmatamento estão associadas à extração de mata nativa para a produção de lenha e carvão vegetal destinado às fábricas gesseiras e para a produção siderúrgica. Tal impacto é sentido na fertilidade do solo, na extinção de espécies da fauna e flora e, consequentemente, na piora da qualidade de vida da população. Essas práticas já levaram à devastação de 45% deste bioma.
Apenas 7,8% do território da Caatinga está protegido por Unidades de Conservação, sendo que somente 1,3% da área é coberta por unidades de proteção integral. Isto é sintomático da dificuldade do Estado brasileiro de cumprir a Convenção Internacional de Diversidade Biológica, da qual o país é signatário, e que tem como meta nacional a manutenção de, no mínimo, 10% de áreas conservadas. A solução encontrada tem sido o estabelecimento e manutenção de parcerias privadas como as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), as quais correspondem a 35,6% das Unidades de Conservação na Caatinga. Tais reservas visam à conservação da diversidade biológica, possibilitando o desenvolvimento de pesquisas científicas e visitação turística.
As experiências das populações tradicionais e agricultores familiares que vivem na Caatinga e investem num manejo diferenciado e sustentável do solo têm demonstrado que é possível a convivência com as características da região, com cultivo variado e a criação de animais saudáveis. Frutas, legumes, raízes in naturaou beneficiados são produzidos e utilizados para consumo familiar e geração de renda.